Lições de liderança em pleno Pólo Sul
5 de fevereiro de 2019As empresas precisam de um novo tipo de líder!
5 de fevereiro de 2019Aprimorando a comunicação, criando uma filosofia operacional, estimulando uma cultura empresarial? Não! É muito mais que isso… Agregue valores como envolvimento, criatividade, autonomia, relacionamento… e veja o sucesso da Unidas como benchmarking. A proposta é agregar valor para crescer. Entrevista com Paulo Silveira, diretor da Unidas
A empresa competitiva tem, na alça de sua mira, o cliente. E a gestão deste
relacionamento, invariavelmente, pode levá-la ao sucesso. Ou não. Mas o que vem
primeiro? Entender que o mundo dos negócios mudou ou que não há espaços para
amadorismo? O executivo Paulo Silveira pode ser uma boa referência nesta seara.
A satisfação do cliente, como ele ensina, é primordial para a garantia da
rentabilidade e continuidade dos negócios em qualquer mercado, mas faz muita
diferença quando se precisa ser competitivo. Por isso, vemos que inúmeras ações
têm sido feitas dentro das empresas, com o objetivo de adequá-las para essa
mudança cultural, às vezes difícil e dolorosa, mas sempre muito gratificante.
Nesse sentido, é preciso aperfeiçoar os canais ligados a ele, o cliente – hoje,
a principal meta de gestão –, onde cada detalhe passa a ser precioso quando se
trata de antecipar as necessidades do mercado. E como existem variáveis,
percepções e gente envolvida neste ciclo! Paulo que o diga. Ele assumiu a
Unidas em maio de 2002, disposto a modificar a forma de operação da empresa e
obter um salto definitivo no setor de locação de veículos. Paulo é engenheiro
de alimentos, formado pela Unicamp, profissão que desempenhou por 13 anos como
presidente de uma empresa dinamarquesa de ingredientes. A partir daí, iniciou
uma nova fase em sua carreira profissional, atuando principalmente no mercado
de serviços, em empresas como a Blockbuster, Nabisco e outras. Nesta
entrevista, Paulo dá detalhes das modificações implantadas na Unidas,
viabilizando a operação integrada de todos os postos de atendimento, com
parâmetros comuns que orientem esses processos e potencialize os negócios.
Quem é o cliente para você?
Sempre considerei o cliente como o fator mais importante, é uma questão de
filosofia, já que para mim ele está sempre em primeiro lugar. Tanto que, hoje,
a empresa que eu dirijo tem o foco centrado no cliente, pois é ele que faz a
diferença. Pessoalmente, gosto muito de me relacionar com as pessoas, sentar à
mesa com simplicidade e ouvir suas colocações. Muitas vezes, é daí que saem
informações valiosas para as empresas. Quando assumi a Unidas, o foco principal
era o carro, quando na verdade ele deveria ser encarado apenas como um meio
para atender o cliente e não a atividade primordial. A Unidas é uma empresa
prestadora de serviço e é este conceito que estou tentando imprimir atualmente.
Como está sendo conduzido esse trabalho?
Logo que ingressei na Unidas, identifiquei de imediato dois negócios que
caminhavam juntos: a locação de veículos e a terceirização de frotas. Para
priorizar o cliente, estou separando esses negócios, estabelecendo um suporte
para eles. Assim, aprimoramos o atendimento com a criação de uma área de gestão
operacional de contratos, que possui um gestor para cada empresa ou grupo de
empresas. Este é hoje o canal de relacionamento com o cliente da Unidas, que
também tem a opção de se comunicar pelo 0800. Mas existe um gestor operacional,
dedicado a atendê-lo em todas as suas necessidades. Essa mudança trouxe uma
proximidade muito grande com o usuário corporativo, especialmente no caso da
terceirização de frotas.
E quando estará concluído?
O trabalho ainda não está finalizado, as alterações continuam. Todos já
conseguem identificar os dois negócios, porém ainda há muita coisa a ser
qualificada. Num primeiro momento, quando se coloca uma idéia nova, há um pouco
de receio natural. Mas é muito gratificante quando o colaborador enxerga que
faz a diferença ouvir o cliente. É um processo em implantação e as pessoas
precisam ver bons resultados para creditar na idéia. Eu creio que esse trabalho
deverá estar totalmente consolidado dentro de um ano aproximadamente.
Qual foi a maior dificuldade?
A principal dificuldade concentrou-se na comunicação, principalmente porque
somos uma rede. Nesse negócio, os canais de comunicação têm de entender que
cada veículo é adequado a um determinado cliente, porém na rede não há essa
diferenciação. Assim, minha estratégia principal foi apostar nas pessoas. Nem
todos ficaram, por não terem a cultura necessária para nos tornarmos a melhor
empresa de serviços na área de locação de veículos no Brasil. E esta é, sem
dúvida, a nossa meta. Hoje, ocupamos a segunda posição no ranking nacional,
consolidada em 202, quando obtivemos um crescimento de 35%. E o nosso principal
concorrente é a Localiza, a líder de nosso mercado.
Que mudanças já são perceptíveis para o cliente no varejo?
Fizemos várias modificações nos postos de atendimento. Alteramos a loja e o
logotipo. Estou utilizando a minha experiência na Blockbuster para atender o
consumidor no varejo, e percebe-se logo os benefícios. Hoje, para a locação de
veículos, temos a central de reservas, um atendimento interno, que é o SAC, e,
agora, estamos criando um site, que também se constitui num canal de
relacionamento. Outra iniciativa nessa área, foi a parceria com a TAM, onde a
Unidas estará presente em todos os canais de entretenimento nos aviões, por
meio de programas que estão sendo elaborados. Enfim, queremos nos comunicar com
o nosso cliente, da mesma forma como ele se comunica conosco ao fazer a
locação.
Quantos clientes a Unidas tem nesse segmento?
No aluguel de veículos, a Unidas conta com aproximadamente 300 mil clientes
cadastrados e cerca de 500 mil diárias por ano, tanto de clientes assíduos,
quanto de novos usuários. Nessa área pretendemos realizar um trabalho de
estratificação, mas por enquanto não podemos divulgar os detalhes. Isto porque,
para nós, é fundamental que as pessoas entendam que uma empresa precisa estar
atenta diariamente à qualidade dos serviços prestados, identificando qualquer
insatisfação por parte do cliente, para não perdê-lo.
Em que áreas você apontaria os maiores erros e acertos para
a fidelização do cliente?
Analisando o mercado como um todo, eu acredito que o nosso concorrente acerta
na estratégia de consistência, pois eles têm uma rede muito grande. Já, a
Unidas, colhe resultados positivos com a flexibilidade no atendimento, seu
diferencial no mercado. E isso foi comprovado por pesquisa recente de
posicionamento, apontando, na área de locação, que o cliente vê a Unidas como a
empresa que presta o melhor serviço para o usuário. Estamos começando a acertar
na estratégia: mudamos a loja, o visual e aproximamos o cliente da vendedora,
eliminando o balcão impessoal que era utilizado antes. Todas essas alterações
fazem com que o cliente retorne. Mas, lamentavelmente, apesar da agilidade, o
serviço de locação de automóveis esbarra em um grande problema nos aeroportos:
a demora para pegar os carros que ficam em bolsões de estacionamentos muito
distantes, despendendo cerca de 40 minutos só para realizar essa tarefa. Em
minha opinião, os serviços no Brasil ainda estão em estágio primário e isso só
poderá ser modificado com muito treinamento e infra-estrutura.
Que outras informações essa pesquisa ofereceu como base para
a evolução do trabalho da Unidas?
Algumas informações chamaram a atenção. Primeiramente, conseguimos identificar
qual é o nosso alvo e descobrimos que ele não se concentra no pequeno usuário e
sim no grande cliente, que provém principalmente das áreas de turismo e
negócios em geral. Dessa forma, começamos a criar produtos para essas áreas e a
parceria com a TAM já é fruto dessa estratégia. Está claro que existe uma
grande demanda de serviços nesse segmento, onde as pessoas são bastante
exigentes e nos fazem crescer.
Hoje qual a representatividade do mercado corporativo para a
Unidas?
No ano passado, crescemos 14% no mercado corporativo, devido às ações na área
de locação, onde fizemos uma boa campanha de marketing. Além disso, a Unidas
explora o negócio de terceirização de frotas, que é um mercado que está
começando e tem muito potencial, principalmente em época de crise.
A Unidas foi a pioneira nesse mercado?
Não, a pioneira no mercado de locação é a Localiza, que eu respeito muito, pois
tem 30 anos de conhecimento na área. Mas a Unidas está andando rápido,
investindo na fidelidade do cliente. Queremos que o usuário repita que gosta
dos serviços da Unidas. Nós trabalhamos em rede e a idéia é fidelizar esse
cliente de Porto Alegre a Belém do Pará. O objetivo é permitir que ele utilize
nossos serviços de forma homogênea em qualquer lugar do Brasil, com frota nova,
segurança, desfrutando de bom atendimento e rapidez. Para isso, o nosso grande
desafio é a padronização, que já está quase resolvida. Revisamos, recentemente,
todo o manual de operações existente e introduzimos todas as melhorias para o
atendimento ao cliente, a fim de uniformizar os procedimentos em todos os
locais onde a Unidas está presente, o que é um enorme desafio. Além disso,
realizamos um grande treinamento na rede, pois entendemos que a base para a
satisfação no serviço é o conhecimento.
Quando essa reestruturação deve reverter em resultados para
a empresa?
A minha estimativa é para este ano. Isto porque é muito mais fácil trabalhar
quando existe uma padronização para o atendimento ao cliente. O conhecimento e
o treinamento são fundamentais para a satisfação e nós já estamos sentindo uma
melhoria muito grande. Tanto que o número de diárias dobrou. As despesas
permanecem no mesmo valor, mas a receita melhorou muito. Na atividade de
locação, a média de atendimento era em torno de cinco minutos, porque a
infra-estrutura estava ruim. Hoje, com as mudanças, a média de atendimento é de
dois segundos, o que é excelente para a imagem da Unidas, que foi muito
beneficiada. Aliás, eu me surpreendi muito com a terceirização do atendimento
ao cliente com a Dedic, desde o primeiro contato. O fato de ser atendido pela
Cláudia Langoni, então presidente da companhia, foi um fator que admirei muito,
pois é uma postura que costumo ter. Em alguns clientes, onde administramos a
frota, de forma terceirizada, gosto de participar das reuniões para entendê-lo
e ter um feedback. Além disso, a terceirização passou a ser atrativa para as
companhias. E quando se ganha em eficiência nessa área, reverte-se em
rentabilidade para a empresa e num bom atendimento para o cliente. Estou muito
satisfeito com essa experiência e pretendo dar continuidade.
Está nos seus planos estender essa experiência para outras
áreas?
Sim, provavelmente deveremos terceirizar as áreas de logística e manutenção,
que não fazem parte de nosso core business. A minha especialidade é a prestação
de serviço, atendendo bem esse usuário. Criamos um departamento de qualidade de
serviço, que gerencia esse item na companhia, auxiliando a determinar os
parâmetros que queremos fornecer. Como resultado, fizemos um investimento de R$
50 milhões no ano passado para a renovação da frota, que estava muito antiga.
Essa iniciativa, aliada às outras medidas de melhoria no atendimento e à
integração de canais, contribuíram para melhorar a imagem da companhia. Neste
ano, estamos priorizando as parcerias estratégicas para a alavancagem, do
negócio. Tanto que, recentemente, firmamos uma parceria com o Credicard, a fim
de oferecer alguns produtos para os nossos clientes. Enfim, a idéia é agregar
valor para crescer.
Fonte: Revista Cliente S.A. – abril/2003 – Pg 14 a 16