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Se você faz o tipo de chefe estúpido, saiba que os ataques de diva podem comprometer sua carreira O publicitário paulista Marcos Le Pera, de 41 anos, era um terror na empresa. Presidente da Le Pera Propa­ganda, em São Paulo, ele quase nun­ca estava disponível para os funcionários e, quando se dirigia a alguém, freqüentemente vinha artilharia pesada. Com freqüência ele gritava com a equipe e humilhava os profissio­nais — que morriam de medo de chegar per­to dele! Marcos encarnava o típico grosseiro corporativo, aquele profissional incapaz de respeitar o próximo, sem educação, que trata to­do mundo mal. “São pessoas que geralmente agem como se estivessem no controle da situa­ção, para camuflar a dificuldade de lidar com seus desajustes pessoais, como o medo da competição no trabalho ou a visão distorcida do poder que possui”, diz Moacir Carlos Sampaio Silva, coordenador da pós-graduação em Psi­cologia Social das Organizações do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. 

Comum nas organizações (quem é que nun­ca topou com um cara assim na empresa?!), es­se profissional não passa dos limites apenas com os subordinados. Pares e até superiores são al­vos de suas grosserias. E o pior é que quase sem­pre o raivosinho nem percebe que passou dos limites. “Ele se comporta assim porque não sa­be fazer de outra forma. E tende a agir da mesma maneira tanto no ambiente profissional quanto nas suas relações familiares, afetivas e sociais”, diz Moacir Carlos. Tanto homens co­mo mulheres fazem parte desse time. A dife­rença é a forma como cada um se manifesta. Eles reinam no campo das indelicadezas ver­bais, não poupando termos pesados nem se preocupando em constranger publicamente sua vítima. “Elas não costumam levantar a voz e berrar palavrões. Mas em geral são ardilosas e sabem corno colocar o funcionário para baixo com suas atitudes”, diz a consultora de recur­sos humanos Stella Angerami, sócia-diretora da Counselling by Angerami, em São Paulo. Ela lembra que o jeito como um chefe joga o relatório na mesa do funcionário, como deixa de elogiar uma tarefa bem-feita ou dá um jeito de não ter tempo na agenda para comparecer a uma reunião com a equipe são formas de mos­trar grosseria sem se exceder nas palavras. 

Carreira em risco

Há quem argumente que a pressão constante por resultados e a carga exagerada de trabalho, tão comuns no mundo corporativo, são respon­sáveis pelos acessos de cólera e desrespeito. Ok, isso pode até justificar uma explosão num dia mais difícil. Mas não pode virar rotina. “Quan­do os problemas gerados pelo temperamento difícil se tornam maiores do que os aspectos positivos da pessoa e o desempenho dela nos ne­gócios, a carreira está sob alerta”, afirma a headhunter Andréa de Paula Santos, responsável pe­la área de Executive Search da consultoria NeoConsulting, em São Paulo. Foi o que descobriu, na prática, o paulista Vagner Aguilar, de 34 anos, diretor de marketing da Bio Ritmo Academia, em São Paulo. Ele conta que nunca estava aber­to ao diálogo e, quando algo não saía como que­ria, expunha os funcionários ao ridículo. A própria equipe reagiu e cobrou uma mudança de comportamento do chefe. E há cerca de um ano uma reformulação na empresa deixou cla­ro que ali não havia espaço para gente grosseira como ele. “Percebi que não estava mais sendo chamado para participar de reuniões estratégi­cas porque sabiam que eu tinha pouco a acres­centar ao coletivo.” Depois de um período de revolta por se achar vítima de perseguição, Vag­ner resolveu mudar. “Ainda tenho que melho­rar, mas aprendi a me relacionar e percebi que ninguém faz uma empresa sozinho.” 

O publicitário Marcos Le Pera também caiu em si depois de perceber que amigos, parentes e fun­cionários estavam se afastando dele. “Com ajuda de meditação e filosofia, aprendi a canalizar mi­nha agressividade para o bem. Em vez de surtar diante de um erro, por exemplo, ouço o que a pessoa tem a dizer.” Sorte de Marcos e Vagner, que acordaram em tempo. Em alguns casos, as tais grosserias corporativas não só comprometem a carreira e as relações pessoais como vão parar no tribunal. “Toda manifestação de desrespeito po­de virar um caso de assédio moral, desde que se torne repetitiva e evidencie a intenção de cons­tranger ou humilhar”, alerta o advogado Luis Fe­lipe Tenório, do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, do Rio de Janeiro.


Fonte: Revista VOCÊ S/A – Edição 100, outubro de 2006 – págs. 93 e 94.

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