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Sergio Luiz de Jesus

O Brasil detém a liderança mundial em taxas de juros. Nominalmente, elas são de 16% ao ano, mas, na realidade, chegam a mais de 180% em algumas modalidades de crédito, como os cartões.

Embora as campanhas de publicidade de diversas empresas costumem apresentar produtos em parcelamento sem juros, é claro que isso não é verdade.

Ora, se um produto é vendido à vista pelo mesmo preço parcelado em até doze ou dezoito vezes, onde estará a mágica?

Não há mágica. Comprando a prazo ou á vista, o consumidor está pagando juros embutidos muito altos. E isso não pode passar despercebido pura e simplesmente. É preciso que o consumidor mude de postura e passe a negociar, a exigir, a argumentar, a se posicionar de uma maneira diferente.

Fizemos o teste numa grande rede varejista aqui de São Paulo. Depois de economizar durante vários meses, fomos até uma de suas lojas com um folheto, em que ela anunciava um eletrodoméstico que queríamos comprar por um determinado valor “sem juros” em até 18 parcelas, sem entrada e com o primeiro pagamento só em março.

É tentador, para muitos, o reduzido valor da parcela mensal do carnê. Mas, se analisarmos a aplicação da taxa de juros média mensal aplicada por essa rede de lojas, em torno de 2,9% ao mês, teremos, ao final de 18 meses, um acréscimo de mais de 50% no preço do bem, valor suficiente para comprar dois outros eletrodomésticos de menor porte.

Anunciamos ao vendedor a intenção de comprar o item à vista e perguntamos se haveria desconto. Ele disse secamente “não”. Mas quando demos meia volta, ele mudou o discurso, dizendo que “ia ver o que podia fazer”. Após um contato com o gerente, anunciou um desconto de 5% sobre o valor da mercadoria. Sabendo que o desconto era pequeno, novamente demos meia volta. Ele tentou de novo e o desconto subiu para 8%. Ainda não satisfeito com a oferta, resolvemos fazer pressão, inclusive mostrando o dinheiro vivo que tínhamos para a aquisição. Ou ele abaixava o preço de forma convincente, ou compraríamos à vista e em dinheiro em outro lugar. Pela terceira vez, demos meia volta.

Então chegamos, aparentemente, ao máximo que seu gerente podia conceder sem ter que falar com seu superior: 13%. Apesar de ainda insuficiente, consideramos o desconto adequado em função do valor total do bem e do pouco tempo que tínhamos para negociar.

Partimos então para os serviços complementares. Solicitamos um brinde. Após algumas idas e vindas, o vendedor nos conseguiu uma calculadora. Queríamos a entrega no dia seguinte, que nos foi prometida. E a instalação do produto “ em até três dias”, foi ajustada para o dia seguinte após a entrega, no horário comercial.

Se tal pôde ser obtido por nós, por que não por um grupo maior de consumidores?

Se houvesse maior mobilização dos consumidores, não apenas as redes varejistas precisariam rever seus métodos de negócio: também os bancos, as financeiras, os atacadistas, as redes de supermercados, os hotéis, as empresas de cartão de crédito e todo o universo de prestadores de serviços começariam a tratar o consumidor de uma forma diferente.

Assim, por mais que pareça difícil, é preciso que ensinemos os grandes magazines a respeitar o consumidor. É preciso que nos mobilizemos, exijamos preços e condições melhores, que façamos cálculos, usemos de argumentos e, acima de tudo, respeitemos nosso suado e escasso dinheirinho.

Se você, leitor, compreendeu esta necessidade e resolveu que, em sua próxima compra, adotará outra postura como consumidor, parabéns! Pode não ser fácil, mas será melhor para toda a sociedade em que vivemos.

Afinal, por mais que os varejistas façam cara feia, eles não sobreviveriam um mês sequer sem nós, os consumidores.

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