Pare de desperdiçar orçamentos
4 de fevereiro de 2019O poder da sexta orientação
4 de fevereiro de 2019Empresas de países emergentes trabalham para colocar suas marcas entre as mais valiosas do mundo. O caminho é longo
As empresas globais de países emergentes já se provaram capazes de competir em escala mundial e de operar com um grau de eficiência muitas vezes superior ao de suas concorrentes dos países desenvolvidos. Apesar de todas as conquistas já realizadas, ainda resta um desafio a essas companhias — o de construir marcas de projeção internacional que reflitam a riqueza, o potencial competitivo e que, principalmente, se transformem em parte relevante de seus ativos. Há duas semanas, a Companhia Vale do Rio Doce, o colosso verde-amarelo com valor de mercado de 180 bilhões de dólares, apresentou sua nova marca global e lançou-se, com pompa e circunstância, nessa empreitada. Numa festa para 500 convidados, realizada no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, o presidente da empresa, Roger Agnelli, anunciou as mudanças. Do logotipo original, foram retirados os apensos “Companhia” e “Rio Doce”. Também foi aposentada a sigla CVRD, forma mais comum de identificar a empresa no exterior. Em seu lugar, surgiu um desenho estilizado da letra “‘V” em verde e amarelo. “Somos a primeira empresa brasileira a criar uma marca global”, disse Agnelli, esquecido das Havaianas, as sandálias da Alpargatas, maior caso de sucesso de uma marca brasileira no exterior até o momento. Para mudar sua marca, a Vale investirá 50 milhões de dólares em quatro anos.
Até hoje, nenhuma empresa de país emergente conseguiu entrar para o grupo das 100 marcas mais valiosas do planeta. Há três explicações para esse desempenho. A primeira diz respeito às circunstâncias históricas e econômicas em que essas empresas nasceram e cresceram. As grandes multinacionais do Bric — Brasil, Rússia, índia e China — surgiram como empresas voltadas para atender às necessidades internas de mercados gigantescos. Muitas dessas companhias foram ou ainda são estatais que floresceram à sombra de regimes fechados, protecionistas e nacionalistas, dominadas por uma cultura burocrática e atrasada. A segunda explicação tem a ver com o tipo de produto fabricado pelas gigantes emergentes. Salvo uma ou outra exceção, esses grupos produzem commodities. Até pouco tempo atrás, as empresas emergentes não tinham despertado para a necessidade de vender açúcar ou suco de laranja de determinada marca. E, mesmo as empresas de produtos manufaturados, como eletrodomésticos, eletrônicos, roupas e calçados, davam pouca importância a isso. “É algo que vem mudando, mas num ritmo ainda lento”, diz Eduardo Tomiya, da Brand Analytics, consultoria especializada no assunto.
O terceiro motivo diz respeito à brutal vantagem das concorrentes de países desenvolvidos com marcas já estabelecidas. A Petrobras vivenciou esse problema há dez anos, quando decidiu internacionalizar sua marca. Por uma exigência da British Petroleum, que já usava a cor verde, a estatal brasileira foi obrigada a escolher o azul como símbolo da empresa. Hoje, a Petrobras adota essa cor tanto nos postos de gasolina que operam na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e na Colômbia como no patrocínio dos carros de corrida da equipe Williams, de Fórmula 1. “Somos obrigados a manter duas marcas, uma para o Brasil e outra para o exterior”, diz Eduardo Felberg, gerente de imagem corporativa e marcas da Petrobras. Apesar de ser a empresa mais importante do Brasil e a 65ª que mais fatura no mundo, a companhia nem se aproxima das 100 marcas globais mais valiosas. A verde British Petroleum fica na 84ª posição e a Shell, na 93ª. “Tanto a BP quanto a Shell são marcas quase centenárias que têm exposição internacional há décadas, enquanto a Petrobras, apesar de todos os esforços, é desconhecida no resto do mundo”, diz Alexandre Zogbi, diretor de avaliação de marca da Interbrand.
Tanto a Vale como a Petrobras seguem o árduo caminho que tem sido trilhado por outras empresas de países emergentes. Até agora, as que mais têm investido na criação e no fortalecimento de suas marcas são as chinesas. E, entre elas, uma das mais bem-sucedidas é a Haier, fabricante de produtos de unha branca. Com subsidiárias em 30 países, a Haier mudou de nome no fim dos anos 90 — anteriormente era conhecida pelo impronunciável nome de Qingdao Refrigerator. Desde então, tem se esforçado para provar que a inscrição “made in China” não é sinônimo de produto barato e ruim. A companhia abriu centros de design e desenvolvimento de produtos na França, na Austrália, na Coreia do Sul e no Japão. Além disso, iniciou um programa radical de controle de qualidade. A empresa instalou uma sirene na linha de montagem de sua maior fábrica, na cidade de Qingdao. Cada vez que um funcionário identificava algum problema ou defeito no produto, a sirene era acionada e a linha de montagem, paralisada. O aparelho, então, era retirado da linha e destruído a marretadas ali mesmo. As vendas no mercado internacional vão bem, mas ainda são pequenas quando comparadas ao mercado doméstico — 3,3 bilhões de dólares ante 10 bilhões. Os chineses, porém, não escondem sua ambição. “Só existirão dois tipos de empresas no mundo: as que têm marcas globais e as que trabalham para elas”, diz Zhang Ruimin, presidente da Haier. “E a Haier será uma marca global.” O objetivo da empresa é tornar-se uma nova Samsung, companhia coreana que “teve uma trajetória meteórica no universo das marcas — seu caminho, assim como o da Vale e o da Petrobras, é longo.
Fonte: REVISTA EXAME – 19/12/2007 – Pág. 78 a 79.