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Atualmente, é comum ouvirmos que as pessoas têm de ser apaixonadas pelo que fazem. Sob certo aspecto, essa afirmação é incontestável. Entretanto, será que devemos perder a razão e nos dedicar ao objeto da paixão sem se importar com mais nada? Acho que não.

Se formos julgar apenas pelas aparências, vamos perceber que há pessoas que fazem o que poderíamos chamar de “marketing da paixão”. São profissionais que fazem questão de dizer que trabalham mais que os outros, que estudam mais que os outros e que se dedi­cam com mais afinco ao atendimento das necessidades dos seus clientes. Esse tipo de pessoa faz questão de dizer que deixa o celular ligado 24 horas por dia, 365 dias por ano para que o cliente possa encontrá-la a qualquer momento. São pessoas que mesmo durante as férias (que nunca duram mais que uma semana) ligam para os clientes para saber se o pedido foi entregue de forma correta ou apenas para perguntar se poderiam ser úteis em alguma coisa.

Quem faz o “marketing da paixão” toma todo o cui­dado para que seus superiores e pares saibam que estão fazendo isso. Seu verdadeiro desejo é chamar a atenção para si. Isso me lembra as pessoas que fazem questão de se dizer generosas porque sabem que somente quem tem algo em excesso é que pode dar.

Acredito que, com o tempo, essas pessoas vão ficando incômodas e cansativas. Incomodam porque querem convencer a todos que o mundo deveria ser como elas são. Chateiam porque ao não dedicarem tempo a si mesmas, acabam se tornando repetitivas, previsíveis e amargas.

Creio que devemos nos dedicar ao que fazemos, mas não devemos fazer uma coisa só na vida. Se vender nos dá muito prazer, ótimo. Mas temos a obrigação de descobrir outras coisas que também nos completam.

Gostaria de fazer uma pergunta: “Há quanto tempo você não faz alguma coisa – qualquer coisa – somente porque isso dá prazer a você?

Pode ser lavar o carro, pintar um quadro, ir ao está­dio de futebol ou qualquer outra atividade mais ou menos sofisticada. Mas só vale se você tiver feito apenas para se agradar. Lavar o carro porque é sua obrigação se apresentar bem, não vale. Pintar um quadro para presentear um amigo que está cobrando isso há um tempão, também não. Ir assistir ao jogo de futebol porque o filho pediu, nem pensar.

Já faz algum tempo que venho observando que as pessoas bem-sucedidas profissionalmente se dedicam apaixonadamente ao que fazem, mas usam a razão para definir quando é hora de trabalhar, quando é hora de atender às demandas dos amigos e da família e quando é hora de fazer alguma coisa que atenda a um desejo ou vontade bem egoísta.

É isso mesmo. Precisamos aprender a ser egoístas de vez em quando. Como diz o ditado popular, caixão não tem gaveta. Como todos sabem, depois do ápice da carreira, invariavelmente, vem o declínio.

Se não fizermos coisas prazerosas durante a vida, acabaremos nos vendo impedidos de, no futuro, pensar que nosso esforço valeu a pena.

Inspirado em Cecília Meirelles eu diria: na hora de trabalhar, trabalhar; na hora de descansar, pernas para o ar que ninguém é de ferro. Pense nisso e boas
vendas.

Fonte: VENDA MAIS – Dezembro/2010 – Pág. 37

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