Categoria: Marketing, vendas e varejo
4 de fevereiro de 2019Preço baixo e o que mais?
4 de fevereiro de 2019A revigoração da PepsiCo deu o título à indiana Indra Nooyi. Ela apostou que os produtos saudáveis tomariam o lugar dos refrigerantes – e está acertando
A executiva indiana Indra Nooyi diz que queria ser cantora de rock quando criança. Aprendeu a tocar guitarra elétrica e chegou a fazer algumas apresentações informais para amigos. Quando a coisa ficou séria demais, afirma ter ouvido da mãe algo que marcaria sua vida: “Você não vai ser cantora de rock. Vai ser primeira-ministra”. Atual CEO da PepsiCo, a segunda maior fabricante de refrigerantes do mundo, Indra adora contar essa história. Mas não acredita que sua mãe teve uma espécie de premonição de seu sucesso. “Eu gostei daquela ideia e decidi que, dali por diante, ia fazer de tudo para chegar lá”, disse. Indra não se tornou primeira-ministra, mas virou uma estrela dentro e fora do universo das empresas. Em outubro, ela foi eleita a mulher mais poderosa do mundo pela revista americana Fortune, à frente de estrelas como a apresentadora Oprah Winfrey e Zoe Cruz, presidente do banco Morgan Stanley e apontada pela própria Fortune como a executiva mais bem paga do planeta.
Indra nasceu há 52 anos numa família de classe média da cidade de Madras, na Índia. Mudou-se para os Estados Unidos aos 23 anos para cursar mestrado em Administração na Universidade Yale, em Connecticut. Antes de ingressar na Pepsi, trabalhou na Motorola e na consultoria The Boston Consulting Group. Foi contratada pela Pepsi em 1994, para ocupar o cargo de vice-presidente de planejamento estratégico. Nessa posição, ela comandou as mudanças que tornaram a concorrente da Coca-Cola um gigante também no ramo de alimentos. Em 1997, foi a responsável pela consolidação das redes Pizza Hut, Taco Bell e KFC, até então deficitárias, em uma única empresa, a Tricon, rebatizada mais tarde de YUM.” Hoje, a YUM é um dos braços mais lucrativos da Pepsi.
A grande tacada de Indra foi a compra da Quaker, dona do Gatorade, no ano 2000. Durante meses, a Quaker negociou sua venda para a Coca-Cola. Diante da demora no acerto, a Pepsi designou Indra para tentar uma investida. Justificando sua fama de negociadora hábil, ela resolveu o assunto em poucas semanas. Por US$ 13,9 bilhões, a Pepsi levou a Quaker e o Gatorade, que detém cerca de 70% das vendas mundiais de isotônicos.
A partir daí, ficou claro que a Pepsi e a Coca-Cola apostariam em estratégias opostas. “A Pepsi passou a investir na diversificação”, diz John Band, analista da consultoria britânica Datamonitor. De acordo com o consultor, a Coca foi na direção oposta, concentrando esforços na área de refrigerantes. Indra teve a sensibilidade de perceber, muito antes da concorrência, uma demanda crescente por produtos saudáveis, que hoje já respondem por 50% do mercado mundial de bebidas não-alcoólicas.
Há uma década, o porcentual não chegava a 30%. Na Pepsi, ela conduziu os lançamentos de marcas como os sucos Tropicana e os chás Lipton. Empresa conhecida até então como uma fabricante de refrigerantes, a Pepsi virou seu negócio do avesso. Apenas 20% de suas receitas atuais vêm da venda de refrigerantes. Na Coca-Cola, a proporção é inversa. A estratégia revelou-se acertada. Há 15 anos, o valor de mercado da Coca-Cola era quase o triplo do valor da Pepsi. Hoje, essa diferença mal chega a 20%. A Coca tem a seu favor o peso de uma das marcas mais fortes da História, avaliada em US$ 65 bilhões, cinco vezes mais que a Pepsi.
Como uma das principais
responsáveis pela virada de estratégia da Pepsi, Indra subiu postos até se
tornar CEO, em maio deste ano. É a primeira mulher a ocupar o cargo na
história da companhia. Para alguns críticos, ela usa a origem indiana como
marketing pessoal. Costuma vestir-se com o sári, traje tradicional indiano.
Em ocasiões especiais, recorre ao tradicional bindi, arca
entre os olhos usada pelos hindus. Casada com um executivo de uma consultoria
americana e mãe de duas meninas, de 11 e 22 anos, costuma levar as filhas para
o escritório. Por causa da vida atribulada típica de executivos de ponta, ela
inventou um sistema curioso. No início do mês, marca no calendário os dias
reservados para jantar com as filhas. Se não cumprir o prometido, as filhas
registram a falta no calendário com um bilhete preto. Segundo Indra, trata-se de
um alerta para lembrá-la que não pode ficar ausente de casa. Como
presidente da PepsiCo, tem sido cada vez mais difícil jantar com a família.
Fonte: REVISTA ÉPOCA – 26 de Novembro de 2010 – Pág. 76 a 77.