Todos por um ou… o verdadeiro trabalho em equipe
5 de fevereiro de 20196-Sigma – Compreendendo os fundamentos desta ferramenta
6 de fevereiro de 2019Avanços na pesquisa do cérebro ajudam a
mudar a organização, dizem Jeffrey Schwartz, autor do best-seller Brain Lock e
pesquisador da UCLA, e David Rock, autor de Quiet Leadership
Mike é CEO (presidente executivo) de uma companhia farmacêutica multinacional e
está em dificuldades. Com as patentes de vários medicamentos importantes
prestes a expirar, seu negócio precisa desesperadamente se tornar mais
empresarial, sobretudo em sua capacidade de formar parcerias internas e
externas para reduzir o tempo de chegada de novos produtos ao mercado. Entretanto,
sua organização possui uma mentalidade de feudos, ou silos, com equipes
altamente competitivas trabalhando secretamente umas contra as outras. Como
Mike pode mudar a maneira pela qual milhares de pessoas em sua empresa pensam e
se comportam todos os dias?
Organizações de todo o mundo enfrentam o mesmo problema: o sucesso não é
possível sem mudar o comportamento cotidiano das pessoas. Entretanto, mudar o
comportamento é difícil, mesmo para os indivíduos e mesmo quando os novos
hábitos significam a diferença entre a vida e a morte. Em muitos estudos de
pacientes que receberam pontes de safena, somente uma em nove pessoas, em
média, passou a adotar hábitos mais saudáveis no dia-a-dia. A vida das outras
corre risco significativamente maior se não se exercitarem e perderem peso.
Elas vêem claramente o valor de mudar seu comportamento; contudo, não
perseveram. Se é difícil mudar individualmente, imagine mudar a maneira de se
comportar de toda uma organização. O histórico uniformemente sofrível nessa
área nos diz que isso é, quando muito, uma aspiração desafiadora.
Durante as últimas duas décadas, os cientistas adquiriram uma visão nova e
muito mais precisa da natureza humana e da mudança de comportamento por conta
da integração da psicologia (estudo da mente e do comportamento humano) e da
neurociência (estudo da anatomia e da fisiologia do cérebro). Tecnologias de
imagem, como imagem funcional por ressonância magnética (fMRI) e tomografia por
emissão de pósitrons (PET), juntamente com tecnologias de análise de ondas
cerebrais, como eletroencefalografia quantitativa (QEEG), já revelaram conexões
neurais inusitadas no cérebro humano vivo. A análise computacional avançada
dessas conexões vem ajudando os pesquisadores a desenvolver um crescente volume
de trabalho teórico que vincula o cérebro (o órgão físico) à mente (a
consciência humana, que pensa, sente, age e percebe).
As implicações desse novo tipo de pesquisa são particularmente relevantes para
os líderes empresariais. Agora fica claro que o comportamento humano no local
de trabalho não funciona da maneira que muitos executivos pensam, o que ajuda a
explicar por que fracassam muitos esforços de liderança e iniciativas de
mudança organizacional — e também o sucesso de empresas como a Toyota e a Springfield
ReManufacturing, cujas práticas de chão de fábrica ou de sala de reuniões ecoam
profundamente nas predisposições inatas do cérebro humano.
Os gestores que entenderem os recentes avanços da ciência cognitiva poderão
liderar e influenciar a mudança consciente: a transformação organizacional que
leva em conta a natureza fisiológica do cérebro e as formas pelas quais ela
predispõe as pessoas a resistir a algumas formas de liderança e a aceitar
outras. Isso não significa que o gerenciamento – da mudança ou de qualquer
coisa – seja uma ciência. Existe muito de arte e habilidade nisso. No entanto,
é possível tirar várias conclusões sobre a mudança organizacional que tornam
essa arte e essa habilidade mais eficazes. Tais conclusões iriam contra o senso
comum ou seriam tachadas de erradas alguns anos atrás. Por exemplo:
– A mudança é dolorida. A mudança organizacional é inesperadamente difícil
porque provoca sensações de desconforto fisiológico.
– O behaviorismo não funciona. Os esforços de mudança baseados em incentivos e
ameaças (a cenoura e a vara) raramente têm êxito em longo prazo.
– O humanismo está superestimado. Na prática, a abordagem de empatia
convencional de conexão e persuasão não envolve suficientemente as pessoas.
– Foco é poder. O ato de prestar atenção cria mudanças químicas e físicas no
cérebro.
– A expectativa molda a realidade. As pré-concepções das pessoas têm impacto
significativo sobre o que elas percebem.
– A densidade da atenção molda a identidade. A atenção repetida, propositada e
concentrada pode levar a uma evolução pessoal duradoura.
– A mudança é dolorida
“Por que as pessoas resistem à mudança tão obstinadamente, mesmo
quando é de seu próprio interesse?”, indagam-se CEOs como Mike. Há na
neurociência vários achados importantes a esse respeito.
O primeiro tem a ver com a natureza da memória humana e sua relação com a
atenção consciente. A memória de trabalho – a “área de retenção” do
cérebro, onde as percepções e idéias podem ser primeiramente comparadas com outras
informações – costuma estar envolvida quando as pessoas encontram algo novo.
Quando você vê um produto novo em uma prateleira do supermercado e
racionalmente compara seus benefícios com os de um produto que já usa, é sua
memória de trabalho que recebe as novas informações e as compara com as
antigas. Esse tipo de memória ativa o córtex pré-frontal, uma parte do cérebro
de energia intensiva.
Os gânglios basais, por outro lado, são invocados por atividade rotineira,
familiar, como colocar um produto freqüentemente comprado no carrinho do
supermercado sem prestar atenção e talvez sem se lembrar depois de que o
pegou. É nessa porção do cérebro, localizada no centro, que se formam e se
mantêm os circuitos de hábitos duradouros. Ela exige muito menos energia para
funcionar do que a memória de trabalho, em parte porque transparentemente
conecta comportamentos simples de módulos cerebrais que já foram moldados por
intenso treinamento e experiência.
Os gânglios basais costumam funcionar muito bem sem pensamento consciente em
qualquer atividade rotineira. Contrariamente, a memória de trabalho se cansa
com facilidade e pode reter apenas uma quantidade limitada de informações
“on-line” em dado momento. Portanto, qualquer atividade conduzida
repetitivamente (até o ponto de se tornar um hábito) tenderá a ser empurrada
para os gânglios basais, a parte do cérebro responsável pelo centro de
hábitos. Isso libera recursos de processamento do córtex pré-frontal.
Por exemplo, depois de aprender a dirigir um carro, as pessoas acabam
dirigindo “sem pensar”, graças aos gânglios basais. Mas, se elas
tentarem dirigir na outra mão de uma via, precisarão usar o córtex pré-frontal
para manter a ação sob controle. Por isso, muita gente nunca quer alugar um carro
na Inglaterra. A mesma dinâmica cognitiva ocorre quando os indivíduos
enfrentam uma mudança estratégica ou organizacional. Muito do que os gestores
fazem no local de trabalho – como eles vendem as idéias, conduzem as reuniões,
gerenciam os subordinados e se comunicam – é tão rotineiro que os gânglios
basais é que comandam o show. Tentar mudar qualquer hábito arraigado exige
muito esforço, na forma de atenção. Isso incomoda as pessoas, que fazem o que
podem para evitar a mudança.
A segunda razão pela qual a mudança é difícil está relacionada ao
funcionamento básico do cérebro. O cérebro humano desenvolveu grande capacidade
de detectar o que os neurocientistas chamam de “erros”: diferenças
percebidas entre a expectativa e a realidade. Quando se promete a uma criança
(na verdade, também a um adulto) um doce e ela descobre que o gosto é salgado
ou amargo, o cérebro emite sinais que usam muita energia, os quais aparecem na
tecnologia de imagens como “surtos de luz”.
Esses sinais de erro são gerados por uma parte do cérebro chamada córtex
orbital frontal. Localizado acima dos globos oculares, ele está intimamente
conectado aos circuitos de medo do cérebro, que residem em uma estrutura
chamada amígdala. (Trata-se da fonte do fenômeno “seqüestro da
amígdala”, a súbita e avassaladora resposta de medo ou raiva descrita em
termos leigos por Daniel Goleman em seu popular livro Inteligência Emocional.)
Quando a amígdala e o córtex orbital frontal são ativados, retiram energia
metabólica da região pré-frontal, que promove e dá suporte a funções
intelectuais mais elevadas. A região pré-frontal é particularmente bem
desenvolvida nos seres humanos e não existe nos primatas superiores. Os sinais
de detecção de erros podem, assim, levar as pessoas a se tornar emotivas e a agir
mais impulsivamente; os instintos animais assumem o comando.
Os portadores de distúrbio obsessivo-compulsivo (DOC) possuem circuitos de
detecção de erros que ultrapassaram os limites. Seu córtex orbital frontal
emite uma mensagem incorreta constante de que algo está errado. O indivíduo
sabe, em um nível, que a mensagem está incorreta, mas o alarme é tão
preponderante que é difícil resistir à tentação de consertar a situação, então
a pessoa fica tentando consertá-la. Quanto mais ela tenta, mais entrincheirados
ficam esses circuitos neurais nos gânglios basais; qualquer “solução”
imediata reforça os circuitos entrincheirados, só piorando o problema. Mesmo
entre os que não sofrem de DOC, o simples ato de tentar mudar um comportamento
rotineiro envia fortes mensagens ao cérebro de que algo não está certo. Essas
mensagens prendem a atenção e podem sobrepujar o pensamento racional.
É preciso uma vontade muito grande para ir além dessa atividade mental – e o
mesmo é válido para a mudança organizacional. Tente mudar o comportamento de
outra pessoa, mesmo com a melhor justificativa possível, e ela se sentirá
incomodada. Seu cérebro enviará mensagens poderosas de que algo está errado, e
sua capacidade de pensamento superior diminuirá. A mudança em si, dessa forma,
amplifica o estresse e o incômodo; e os gestores – que, de sua posição na
hierarquia, podem não perceber os fatos da mesma forma que os subordinados os
percebem – tendem a subestimar os desafios inerentes à implementação.
O behaviorismo não funciona
Muitos modelos existentes para mudar o comportamento das pessoas são extraídos
do behaviorismo. Trata-se de um campo da psicologia que surgiu na década de
1930 e foi liderado pelo psicólogo B.F. Skinner e pelo executivo de publicidade
John B. Watson, com base no famoso conceito de Ivan Pavlov de resposta
condicionada: associe o toque de uma campainha a comida e você pode fazer um
cão salivar só com o som. Os behavioristas generalizaram essa observação para
os seres humanos e estabeleceram uma abordagem à mudança que às vezes é
caricaturizada como “Espalhe os M&Ms”. Para cada pessoa existe um
conjunto de incentivos motivadores – uma combinação de cores de balas.
Apresente os incentivos corretos e a mudança desejada ocorrerá naturalmente. Se
não ocorrer, você deve ajustar a mistura de cores dos M&Ms.
Entretanto, existem muitas evidências da pesquisa clínica e da observação no
local de trabalho de que os esforços de mudança baseados em incentivos e
ameaças típicos (a cenoura e a vara) raramente dão resultado em longo prazo.
Por exemplo, quando as pessoas rotineiramente chegam atrasadas às reuniões, um
gerente pode repreendê-las. Isso talvez discipline os atrasados em curto
prazo, mas também tira sua atenção do trabalho e os faz voltar aos problemas
que originalmente ocasionaram o atraso. Outro gerente pode decidir recompensar
as pessoas que chegam pontualmente com o reconhecimento público ou melhores
tarefas; para as que chegam atrasadas, isso cria ansiedade e reforça os padrões
neurais associados ao problema habitual. Contudo, apesar de todas as evidências
de que não funciona, o modelo behaviorista ainda é o paradigma dominante em
muitas organizações. A cenoura e a vara ainda vão muito bem, obrigado.
O humanismo está superestimado
O grande campo da psicologia a surgir após o behaviorismo foi o movimento
humanista das décadas de 1950 e 1960, inspirado por pensadores como Cari
Rogers e Abraham Maslow. Também chamada de abordagem centrada na pessoa, essa
escola de pensamento supunha que a auto-estima, as necessidades emocionais e os
valores poderiam alavancar a mudança de comportamento. O modelo predominante
da psicologia humanista envolvia ajudar as pessoas a atingir seu potencial pela
auto-realização – trazer à tona capacidades e aspirações escondidas. Os
terapeutas e coaches deixaram para trás a cenoura e a vara e se concentraram
na empada. Eles ouviam os problemas das pessoas, tentavam entendê-los de seu
próprio modo e permitiam que surgisse uma solução holística.
Teoricamente, seria possível a abordagem centrada na pessoa resultar em uma
solução eficaz. Contudo, raramente há tempo para aplicar esse processo com os
funcionários e nenhuma garantia de que produzirá os resultados desejados. A
auto-atualização verdadeira poderia simplesmente levar alguém a se demitir do
emprego. Além do mais, na prática, a abordagem humanista leva a uma ênfase na
persuasão. A meta implícita é “trazer as pessoas para seu barco” ao
estabelecer confiança e relacionamento e então convencê-las do valor de uma
mudança. Os manuais de treinamento de gestão de desempenho sobre como aplicar
as avaliações anuais freqüentemente aconselham os gerentes a “fornecer um
feedback de desempenho construtivo”. Trocando em miúdos, isso significa
“dizer educadamente às pessoas o que elas estão fazendo errado”.
Embora colorida pela intenção humanista, essa abordagem, a seu modo, é tão
mecanicista quanto o behaviorismo. Ela supõe que, se as pessoas receberem as
informações corretas sobre o que estão fazendo errado e houver os incentivos
corretos implantados, elas automaticamente mudarão.
No entanto, o cérebro humano pode se comportar como uma criança de 2 anos:
diga-lhe o que fazer e ela automaticamente age ao contrário. Esse fenômeno é
parcialmente uma função da homeostase (o movimento natural de qualquer
organismo de tender ao equilíbrio e afastar-se da mudança), mas também reflete
o fato de que o cérebro é um órgão que faz padrões com um desejo inato de criar
conexões inusitadas. Quando as pessoas resolvem um problema por si sós, o
cérebro libera uma corrente de neurotransmissores como a adrenalina. Esse
fenômeno fornece uma base científica para algumas das práticas do coaching de
liderança. Em vez de dar aulas e fornecer soluções, os coaches eficazes fazem
perguntas pertinentes e dão apoio a seus clientes para eles próprios
descobrirem as soluções.
O poder de mudar o comportamento com perguntas data da época de Sócrates, mas
mesmo o método socrático pode falhar quando for utilizado por alguém de
autoridade que estiver tentando convencer os outros de determinada solução ou
resposta. Leslie Brothers, psiquiatra, neurocientista e autora de Friday’s
Footprint: How Society Shapes the Human Mind, demonstrou que a estrutura do
cérebro nos predispõe a sermos socialmente orientados. Os recém-nascidos
apresentam uma forma de empada, e aos 6 meses, bem antes de conseguirem falar,
os bebês apresentam emoções avançadas socialmente orientadas, como ciúme.
Quando uma pessoa tenta educadamente dizer a outra o que ela está fazendo errado
e formula a crítica com uma pergunta (ainda que seja aparentemente inócua,
como “O que a fez pensar que essa solução funcionaria?”), o alarme
subconsciente dispara a campainha. As pessoas conseguem detectar a diferença
entre uma indagação autêntica e um esforço para convencê-las.
Nem a perspectiva behaviorista nem a abordagem centrada na pessoa têm sido
sofisticadas o bastante para fornecer um método confiável de produzir uma
mudança de comportamento duradoura em funcionários inteligentes e de alto desempenho,
mesmo quando for do próprio interesse deles mudar. Está na hora de procurar em
outro lugar.
Foco é poder
Alguns dos maiores avanços na ciência e na indústria surgiram da integração de
campos separados. Quando o estudo da eletricidade e do magnetismo se juntaram
para se tornar a ciência do eletromagnetismo, o campo nos deu o motor elétrico
e o gerador, que, por sua vez, desencadearam a Revolução Industrial. Para
entender a melhor forma de orientar a mudança organizacional, vamos recorrer a
outro nexo: o da neurociência com a física contemporânea.
Os neurônios se comunicam por um tipo de sinalização eletro-química que é
impulsionada pelo movimento de íons como sódio, potássio e cálcio. Esses íons
viajam por canais dentro do cérebro que são, em seu ponto mais estreito, apenas
um pouquinho mais largos do que um íon individual. Isso significa que o cérebro
é um ambiente quântico e, portanto, está sujeito a todas as surpreendentes leis
da mecânica quântica. Uma delas é a do efeito Zeno quântico (EZQ), descrito em
1977 pelo físico George Sudarshan, da University of Texas, em Austin, e
verificado experimentalmente muitas vezes desde então.
O EZQ está relacionado ao já estabelecido efeito do observador da física
quântica: o comportamento e a posição de qualquer entidade de tamanho atômico,
como um átomo, elétron ou íon, parecem mudar quando essa entidade é observada.
Isso, por sua vez, está ligado à natureza probabilística da entidade. As leis
quânticas que governam os comportamentos observados das partículas subatômicas
e também os de todos os sistemas maiores construídos a partir delas são
expressas em ondas de probabilidade, que são afetadas de formas específicas
pelas observações feitas no sistema. No EZQ, quando se observa qualquer sistema
de maneira repetitiva suficientemente rápida, reduz-se a velocidade com que
esse sistema muda. Uma experiência clássica envolveu a observação de átomos de
berílio, que podiam decair do estado de alta energia para o de baixa energia. À
medida que o número de medições por unidade de tempo aumentava, a probabilidade
da transição de energia caía: o átomo de berílio ficava mais tempo em seu
estado excitado, porque os cientistas, na verdade, repetidamente perguntavam:
“Você já decaiu?”. Na física quântica, como no resto da vida, uma
vasilha que está sendo observada nunca ferve. Em um trabalho de 2005 publicado
na Philosophical Transactions of the Royai Society, o físico Henry Stapp e um
dos autores deste artigo, Jeffrey Schwartz, relacionaram o EZQ com o que acontece
quando se presta bastante atenção a uma experiência mental. Aplicado à
neurociência, o EZQ afirma que o ato mental de concentrar a atenção estabiliza
os circuitos cerebrais associados. Concentrar a atenção em sua experiência
mental, seja um pensamento, uma percepção, uma imagem no olho de sua mente ou
um temor, mantém o estado cerebral que surge em associação com essa
experiência. Com o tempo, prestar atenção suficiente a qualquer conexão
cerebral específica mantém o respectivo circuito aberto e dinamicamente vivo.
Esses circuitos podem então se tornar não apenas ligações químicas, mas
mudanças físicas e estáveis na estrutura do cérebro.
Os cientistas cognitivos sabem há uns 20 anos que o cérebro é capaz de mudanças
internas significativas em resposta a mudanças ambientais, um achado
surpreendente quando constatado pela primeira vez. Sabemos agora também que o
cérebro muda em função de onde um indivíduo concentra sua atenção. O poder
está no foco.
A atenção reformula continuamente os padrões do cérebro. Entre as implicações:
as pessoas que praticam uma especialidade todos os dias literalmente pensam de
modo diferente, por meio de conjuntos de conexões distintos, das que não
praticam a especialidade. Nos negócios, profissionais em funções diversas –
finanças, operações, jurídico, pesquisa e desenvolvimento, marketing, design e
recursos humanos – possuem diferenças fisiológicas que os impedem de ver o
mundo da mesma forma.
A expectativa molda a realidade
Os cientistas cognitivos estão constatando que os mapas mentais, as teorias, as
expectativas e as atitudes das pessoas desempenham papel mais central na
percepção humana do que se entendia anteriormente. Isso pode ser bem
demonstrado pelo efeito placebo. Diga às pessoas que receberam um medicamento
para aliviar a dor e elas sentem uma marcante redução sistemática da dor,
apesar do fato de terem recebido uma substância totalmente inerte, uma pílula
açucarada. Um estudo de 2005 realizado por Robert C. Coghill e outros verificou
que “as expectativas de alívio da dor produzem uma redução na dor
percebida (28,4%) que compete com os efeitos de uma dose claramente analgésica
de morfina”. Donald Price, da University of Florida, mostrou que a
expectativa mental do alívio é responsável pela mudança na percepção da dor. Os
centros de dor mais profundos do cérebro mostram mudanças sistemáticas
condizentes com as mudanças na dor vivenciada.
Price e Schwartz atualmente estão trabalhando para demonstrar que o efeito
Zeno quântico explica essas constatações. A expectativa mental do alívio da dor
faz com que a pessoa repetidamente concentre sua atenção na experiência
aliviadora, de forma que os circuitos do cérebro de alívio da dor são
ativados, provocando uma diminuição efetiva da sensação de dor. As pessoas
vivenciam o que esperam vivenciar.
O fato de nossas expectativas, quer conscientes, quer inseridas nos centros
mais profundos de nosso cérebro, poderem desempenhar papel tão grande na
percepção tem implicações significativas. Dois indivíduos trabalhando na mesma
linha telefônica de atendimento ao cliente podem ter mapas mentais diferentes
dos mesmos clientes. O primeiro, ao encarar os clientes apenas como crianças
problemáticas, ouvirá somente reclamações que precisam ser sanadas; o segundo,
ao vê-los como profissionais ocupados, mas inteligentes, receberá sugestões
valiosas para melhorar um produto ou serviço.
Então, como se deve proceder em relação à facilitação da mudança? O impacto
dos mapas mentais sugere que uma maneira de começar é cultivar os momentos de
percepção (“insight”). A mudança de comportamento em larga escala
exige uma mudança dos mapas mentais em larga escala. Isso, por sua vez, requer
algum tipo de evento ou experiência que permita que as pessoas se desafiem, de
fato, a mudar suas atitudes e expectativas de forma mais rápida e drástica do
que normalmente o fariam.
MarkJung-Beeman, do Instituto de Neurociência da Northwestern University, e
outros recentemente usaram tecnologias de fMRI e QEEG para avaliar momentos de
percepção. Um estudo observou súbitos surtos de oscilações de alta freqüência
de 40 Hz (ondas gama) no cérebro logo antes dos momentos de percepção. Essa
oscilação é propícia para criar vínculos entre muitas partes do cérebro. O mesmo
estudo constatou que o giro temporal frontal superior direito é ativado. Essa
parte do cérebro está envolvida em perceber e processar música, relações
espaciais e estruturais (como as de um prédio ou de uma pintura) e outros aspectos
complexos do ambiente. As constatações sugerem que, em um momento de percepção,
cria-se um complexo conjunto de novas conexões. Tais conexões têm o potencial
de aprimorar os recursos mentais e superar a resistência do cérebro à mudança.
Contudo, para conseguir isso, dada a memória de trabalho limitada do cérebro, é
necessário fazer um esforço deliberado para fixar uma percepção ao prestar
atenção repetida nela.
É por isso que os funcionários precisam “ser os donos” de qualquer
tipo de iniciativa para que ela tenha sucesso. E é por isso que os líderes que
querem mudar a forma de pensar das pessoas de sua equipe devem aprender a
reconhecer, encorajar e aprofundar as percepções delas.
A densidade da atenção molda a identidade
Para que as percepções sejam úteis, elas precisam ser geradas de dentro, não dadas
aos indivíduos como conclusões. Isso é verdade por vários motivos. Primeiro, as
pessoas sentirão o surto de percepção como adrenalina somente se passarem pelo
processo de elas próprias fazerem as conexões. O momento de percepção é bem
conhecido como uma experiência positiva e energizante. Esse surto de energia
pode ter papel central na facilitação da mudança: ele ajuda a lutar contra as
forças internas (e externas) que tentam impedir que a mudança ocorra, inclusive
a resposta de medo da amígdala.
Em segundo lugar, as redes neurais são influenciadas de momento a momento
pelos genes, experiências e padrões de atenção variados. Embora todas as
pessoas tenham algumas funções amplas em comum, na verdade cada uma possui uma
arquitetura cerebral única. Os cérebros humanos são tão complexos e individuais
que é quase inútil tentar imaginar como outra pessoa deveria reorganizar seu
pensamento. E muito mais eficaz e eficiente ajudar os outros a chegar a suas
próprias percepções. Para realizar esse feito, é preciso auto-observação. Adam
Smith, em sua obra-prima de 1759, A Teoria dos Sentimentos Morais, referiu-se a
isso como “os espectadores de nosso próprio comportamento”. O termo
“densidade de atenção” está sendo cada vez mais usado para definir a
quantidade de atenção prestada a determinada experiência mental em dado tempo.
Quanto maior a concentração em uma idéia ou experiência mental específica,
maior a densidade de atenção. Em termos de física quântica, a densidade de
atenção coloca em ação o EZQ e faz com que novos circuitos do cérebro sejam
estabilizados e, assim, desenvolvidos. Com densidade de atenção suficiente, os
pensamentos e atos individuais da mente podem se tornar uma parte intrínseca
da identidade de um indivíduo: quem somos nós, como percebemos o mundo e como
nosso cérebro funciona. O termo dos neurocientistas para isso é
“neuroplasticidade autodirecionada”.
Você provavelmente já teve a experiência de ir a um programa de treinamento e
ficar entusiasmado com as novas maneiras de pensar e depois perceber que não
conseguia lembrar quais eram elas. Um estudo de 1997 com 31 gerentes do setor
público realizado por pesquisadores do Baruch College constatou que só um
programa de treinamento aumentava a produtividade em 28%, mas o acréscimo do
acompanhamento de um coach ao treinamento aumentava a produtividade em 88%.
Isso explica por que, para pessoas que estão sempre atrasadas, costumes como
carregar dois relógios — um adiantado e o outro na hora certa – ou
rotineiramente chegar 20 minutos antes às reuniões podem ser eficazes: elas vão
concentrar atenção consciente no resultado melhorado.
Martin Seligman, fundador do movimento da psicologia positiva e ex-presidente
da Associação Americana de Psicologia, estudou 47 indivíduos gravemente
deprimidos. Primeiro, os participantes concentraram sua atenção em coisas que
comprovadamente aumentavam a felicidade, em vez da fonte ou natureza de sua
infelicidade – que é onde muitos dos tratamentos de saúde mental se concentram.
Segundo, permitiu-se a formação de comunidades, que encorajavam as pessoas a
prestar atenção aos exercícios indutores de felicidade. A depressão foi
reduzida de modo significativo em 94% dos participantes, desde os sintomas
graves até os clinicamente leves a moderados. O impacto foi semelhante aos
efeitos da medicação e da terapia cognitiva combinados.
Em suma, talvez qualquer mudança de comportamento provocada por líderes,
terapeutas ou coaches seja primariamente uma função de sua capacidade de
induzir os outros a concentrar sua atenção em idéias específicas, com
freqüência e por tempo suficiente.
Fonte:
Revista HSM Management – Nº. 60, Janeiro/Fevereiro de 2007 – págs. 44 a 54.