A vida dura dos gerentes
5 de fevereiro de 2019Todos por um ou… o verdadeiro trabalho em equipe
5 de fevereiro de 2019Se você faz o tipo de chefe estúpido, saiba que os ataques de
diva podem comprometer sua carreira O publicitário paulista Marcos Le Pera, de
41 anos, era um terror na empresa. Presidente da Le Pera Propaganda, em São
Paulo, ele quase nunca estava disponível para os funcionários e, quando se
dirigia a alguém, freqüentemente vinha artilharia pesada. Com freqüência ele
gritava com a equipe e humilhava os profissionais — que morriam de medo de
chegar perto dele! Marcos encarnava o típico grosseiro corporativo, aquele
profissional incapaz de respeitar o próximo, sem educação, que trata todo
mundo mal. “São pessoas que geralmente agem como se estivessem no controle
da situação, para camuflar a dificuldade de lidar com seus desajustes
pessoais, como o medo da competição no trabalho ou a visão distorcida do poder
que possui”, diz Moacir Carlos Sampaio Silva, coordenador da pós-graduação
em Psicologia Social das Organizações do Instituto Sedes Sapientiae, em São
Paulo.
Comum nas organizações (quem é que nunca topou com um cara assim na
empresa?!), esse profissional não passa dos limites apenas com os
subordinados. Pares e até superiores são alvos de suas grosserias. E o pior é
que quase sempre o raivosinho nem percebe que passou dos limites. “Ele se
comporta assim porque não sabe fazer de outra forma. E tende a agir da mesma
maneira tanto no ambiente profissional quanto nas suas relações familiares,
afetivas e sociais”, diz Moacir Carlos. Tanto homens como mulheres fazem
parte desse time. A diferença é a forma como cada um se manifesta. Eles reinam
no campo das indelicadezas verbais, não poupando termos pesados nem se
preocupando em constranger publicamente sua vítima. “Elas não costumam
levantar a voz e berrar palavrões. Mas em geral são ardilosas e sabem corno
colocar o funcionário para baixo com suas atitudes”, diz a consultora de
recursos humanos Stella Angerami, sócia-diretora da Counselling by Angerami,
em São Paulo. Ela lembra que o jeito como um chefe joga o relatório na mesa do
funcionário, como deixa de elogiar uma tarefa bem-feita ou dá um jeito de não
ter tempo na agenda para comparecer a uma reunião com a equipe são formas de
mostrar grosseria sem se exceder nas palavras.
Carreira em risco
Há quem argumente que a pressão constante por resultados e a carga exagerada de
trabalho, tão comuns no mundo corporativo, são responsáveis pelos acessos de cólera
e desrespeito. Ok, isso pode até justificar uma explosão num dia mais difícil.
Mas não pode virar rotina. “Quando os problemas gerados pelo temperamento
difícil se tornam maiores do que os aspectos positivos da pessoa e o desempenho
dela nos negócios, a carreira está sob alerta”, afirma a headhunter
Andréa de Paula Santos, responsável pela área de Executive Search da
consultoria NeoConsulting, em São Paulo. Foi o que descobriu, na prática, o
paulista Vagner Aguilar, de 34 anos, diretor de marketing da Bio Ritmo
Academia, em São Paulo. Ele conta que nunca estava aberto ao diálogo e, quando
algo não saía como queria, expunha os funcionários ao ridículo. A própria
equipe reagiu e cobrou uma mudança de comportamento do chefe. E há cerca de um
ano uma reformulação na empresa deixou claro que ali não havia espaço para
gente grosseira como ele. “Percebi que não estava mais sendo chamado para
participar de reuniões estratégicas porque sabiam que eu tinha pouco a acrescentar
ao coletivo.” Depois de um período de revolta por se achar vítima de
perseguição, Vagner resolveu mudar. “Ainda tenho que melhorar, mas
aprendi a me relacionar e percebi que ninguém faz uma empresa
sozinho.”
O publicitário Marcos Le Pera também caiu em si depois de perceber que amigos,
parentes e funcionários estavam se afastando dele. “Com ajuda de
meditação e filosofia, aprendi a canalizar minha agressividade para o bem. Em
vez de surtar diante de um erro, por exemplo, ouço o que a pessoa tem a
dizer.” Sorte de Marcos e Vagner, que acordaram em tempo. Em alguns casos,
as tais grosserias corporativas não só comprometem a carreira e as relações
pessoais como vão parar no tribunal. “Toda manifestação de desrespeito pode
virar um caso de assédio moral, desde que se torne repetitiva e evidencie a
intenção de constranger ou humilhar”, alerta o advogado Luis Felipe
Tenório, do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão, do Rio de Janeiro.
Fonte:
Revista VOCÊ S/A – Edição 100, outubro de 2006 – págs. 93 e 94.